Primeiramente quero falar que a gente pensa que nunca vai acontecer com a gente, mas comigo aconteceu também. Meu pai, Marcelo Guimarães, foi assassinado no dia 4 de janeiro desse ano, indo para o trabalho no primeiro dia após o recesso de fim de ano, na Cidade de Deus, na Zona Oeste. Eu sempre vi nos jornais e redes sociais as pessoas distorcendo histórias e a gente vai vendo que as pessoas vão acreditando em qualquer versão que vai sendo falada na televisão.
Agora que eu passei por isso eu vejo que a mídia realmente distorce os fatos, parece até que são cúmplices, né? Eu dei várias entrevistas a jornalistas e eles alteraram praticamente tudo o que eu falei.
E é ainda mais doloroso estar de luto e saber qual era o nome da pessoa, o caráter, o que ele fazia. E ler escrito o nome dele dessa forma, ouvir ele sendo falado dessa forma, sendo questionado, mesmo tendo sido assassinado, injustiçado, e ainda assim duvidarem dele.
Um policial deu um tiro nele e eu também quero saber a resposta. Alguns disseram que foi porque a polícia tentou parar meu pai e ele não parou. Então como é que se aborda uma pessoa de dentro do Caveirão? Como mostra no vídeo, ele estava lá do outro lado da pista de onde meu pai sofreu essa brutalidade. Não tem sentido eles terem feito isso apenas porque meu pai não parou e no vídeo tem a comprovação. O policial atirou de dentro do Caveirão, daquela janela que fica aberta lá em cima.
Falaram também que meu pai fez uma bandalha; eu acho muito difícil, pois ele sempre foi muito medroso para essas coisas, ainda mais com um Caveirão por perto.
Não houve confronto, não houve tiroteio, e por mais que deem esse argumento, não faz sentido que os traficantes da Cidade de Deus tenham ido para a pista atacar um Caveirão. Nenhuma testemunha que estava no local confirmou as trocas de tiro. As pessoas afirmaram que só houve um tiro, o que acertou meu pai.
Meu pai era muito trabalhador, trabalhava muito. Até digo que ele não teve a vida que mereceu. Ele desde sempre trabalhou muito, não pôde viver muita coisa. Ele disse que esse ano ele iria descansar. Ele sempre trabalhou muito para nos dar o melhor e não deixar faltar nada para mim e para meu irmão de cinco anos. Infelizmente agora ele se
foi, com apenas 38 anos. E o que aconteceu com ele aconteceu com muitos antes dele.
O que a PM faz com o povo preto, pobre, favelado e trabalhador, precisa parar, nesse país racista que nos mata todos os dias. tenho certeza de que se fosse um branco passando no momento que meu pai passou com a moto e não parou, ele não teria atirado.
É muito triste porque meu pai não tá mais aqui. A gente vai seguir aqui lutando por justiça, porque como sempre falo nas minhas redes, já que a mídia não mostra o que de fato acontece na favela, estarei aqui do lado de fora pensando positivo, que vamos conseguir justiça, e não só para o meu pai, mas por todos aqueles que a polícia também matou e não se responsabilizou. Que seja feita a justiça! E eu vou estar aqui falando até o fim.