Essa violência nasceu com a chegada dos primeiros representantes do Estado no século XV, com a invasão dos portugueses no solo brasileiro. Pedro Álvares de Cabral iniciou o pé na porta, não respeitando os donos da terra, os índios. Este mesmo pé na porta foi incorporado junto à Polícia Militar, iniciada com os capitães do mato daquela época.
Essa violência deu origem ao projeto de exclusão e extermínio. Os índios receberam as primeiras balas “perdidas” das tropas portuguesas. Rapidamente providenciaram os transportes de negros oriundos da África, pois os índios resistiam o quanto podiam em não ser tratados como escravos. A Igreja intervindo no aconselhamento dos índios a se catequisarem e ficarem firmes na fé, porque a escravidão era boa e trazia progresso para todos. Os índios não caíram nessa falácia e adentravam as matas fugindo.
Na travessia dos mares muitos negros não resistiam às perversidades e morriam. Na sequência seus corpos eram lançados ao mar. Os que aqui chegavam eram comercializados e levados às senzalas das Casas Grandes. A noite tramavam e alguns fugiam para os mais diversos QUILOMBOS.
Os primeiros Quilombos, obviamente, aconteciam nas áreas afastadas dos centros povoados. Preferiam áreas montanhosas. Assim podiam assistir às chegadas ou não dos capitães do mato. Grilhões, correntes, ferros quentes, pelourinhos e troncos eram os principais instrumentos de torturas. A presença do Estado oficializava a violência, credenciando os proprietários de terras e negócios.
Hoje esse costume se transformou em um projeto de extermínio conhecido como necropolítico, onde o Estado seleciona quem deve morrer.
O Rio de Janeiro recebeu em sua área portuária mais de 700 mil negros. O local é conhecido como Cais do Valongo, um Patrimônio Cultural abandonado por esse mesmo Estado. Primeiro surgiram os cortiços e na sequência, as favelas. Passamos a chamar carinhosamente de Quilombos Urbanos, onde sobrevivem negros e negras resistentes em busca da cidadania. Eu sou um desses negros ousados e que moro na favela do Jacarezinho a qual concentra o maior número de negros em favelas no Rio de Janeiro, logo recebeu o nome de Quilombo Urbano Jacaré.
É histórica a violência do Estado contra a população trabalhadora, em sua maioria negra, quase sem direitos e cidadania. Com a chegada fria da pandemia ficou ainda mais claro essa violência, desemprego em massa, subnotificação, contrainformações, sistema de saúde falido, falta de projeto para as favelas e periferias e por fim, um Auxílio Emergencial como se fosse uma esmola. Por fim, uma tremenda falta de interesse com as vacinas proporcionando assim, clara suspeita de corrupção nas compras de uma delas. Muito mais exemplos caberiam nesse texto, mas entendo como suficiente para provar que a violência do Estado sempre fez parte do processo de colonização.