Testei positivo para Covid-19. E agora?

Elaine Marcelina, moradora de Campo Grande, agente de combate à endemias, escritora e militante do Movimento Negro Unificado.
Imagem: Acervo Fiocruz Imagens

Rio, 15/2/2022.

Venho relatar minha saga após testar positivo para Covid-19, no dia 9 de janeiro de 2022. Sou Elaine Marcelina, funcionária do Ministério da Saúde, sou Agente de Combate à endemias, tenho as três doses da vacina, e por estar há cinco anos sem aumento de salário com esse governo nefasto, estou sem plano de saúde. Eu tinha o CAPESAUDE, até 2019. A última fatura em agosto de 2019 foi de R$ 900,00, não pudepagar e estou sem plano até o momento, como muitos de meus colegas e como a maioria da população brasileira. Qual a relevância de falar sobre a falta que faz esse aumento? Em minha opinião, toda.

Eu trabalhei no dia 8 de janeiro, na escriba da vacinação de covid-19, no meu setor de trabalho em um Posto de saúde na Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde moro. Fui para casa no fim do plantão, descansei, e tudo bem. Na manhã do dia 9 de janeiro de 2022, amanheci com dor na garganta e pensei: “será que estou com Covid? Vou fazer o teste quando chegar na Unidade amanhã”. No fim do dia iniciei falta de ar, fui para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e, como passava das 18h, já havia acabado o teste, fui atendida, minha pressão estava alta, e fui orientada a voltar no dia seguinte para o teste.

Fui até outra UPA, nesta fui atendida e fiz o teste, deu positivo e pelos meus sintomas, a médica me deu 10 dias e aconselhou que eu voltasse a qualquer momento se tivesse falta de ar. Fui para casa. No dia seguinte iniciei a medicação, minha filha de 17 anos também testou positivo para Covid-19, ela com sintomas mais brandos do que o meu, pois tenho comorbidades (cardiomegalia, hipertensão severa e diabetes). Na terça feira eu amanheci com muita falta de ar, voltei à UPA, fiquei internada por dois dias, entrei no Sistema Estadual de Regulação (SER), depois tive uma pequena melhora. Me deram alta, pois estavam chegando pacientes mais graves. A sala que eu estava só comportava três pessoas e já estava com quatro. O sistema está falido, caótico, os profissionais de saúde fazem o que pode com pouco recurso.

Depois da minha alta, voltei para casa bem debilitada, porque meu pulmão tinha resquícios da influenza (gripe), que tive no fim do Covid-19, por isso a falta de ar. A orientação é se alimentar bem, tomar bastante suco e repousar. Consegui fazer isso. Os primeiros dez dias o gasto foi grande. Será que o morador da favela, ou pessoas desempregadas conseguem se cuidar neste período? Digo isto porque vários familiares meus, moradores de Bangu, tiveram Covid-19 e tiveram muitas dificuldades para comprar medicamentos que, por vezes, faltavam nas unidades de saúde, e o suco? A boa alimentação, se a pessoa for camelô? E o repouso? Sem contar que este governo demorou a vacinar a população, por isso de tantas variantes, além de fazer campanha contra a vacinação. Retrocedemos muito com esta gestão de governo irresponsável e quem paga está conta é a população pobre, que morre nos leitos de hospitais, ou ficam com outras doenças, pois a Covid-19 deixa sequelas. Este relato é um alerta para que todos se vacinem, para que toda população exija um bom tratamento de saúde na rede pública, pois isso não é um favor e sim dever do estado. Estamos vivendo há mais de dois anos uma pandemia, isso muda tudo em nossas vidas, muitas pessoas ficaram depressivas por estarem trancadas em casa, pela perda de familiares e amigos, ou por ver o noticiário. E não se enganem, ainda não acabou, se cuidem, usem máscara, façam seu protocolo de higiene ao sair de casa, porque após testar positivo para Covid-19, você vira estatística; estatística esta que nem sempre é olhada com responsabilidade por nossos governantes. O que fazer? No meu caso, uso a caneta, a escrita, alerto como posso, ache sua forma de protestar contra tudo isto que está posto neste momento, não só no Rio de Janeiro, mas no Brasil e no mundo.

Imagem: Acervo Fiocruz

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