Busca Injusta

Luciene Silva, Rede de Mães e Familiares de Vítimas de Violência da Baixada Fluminense.

Onde você está? E agora, o que eu vou fazer?
Onde vou lhe procurar? A quem posso recorrer?
A Justiça diz que irá investigar, que temos que aguardar
Mas como não nos desesperar, se quem amamos pode nunca
mais voltar
Mais voltar!
O coração aperta até doer, quero ver você, quero ver você!
As horas vão avançando, vão avançando
E os dias vão passando, passando
E no silêncio, sem resposta, nós vamos ficando
Essa violência vai nos violentando, tirando a vida dos nossos
E desaparecendo com os seus corpos, eles vão nos torturando!
Famílias que foram condenadas aos seus mortos, não poder o
corpo velar
E assim não podem dizer adeus, e a última homenagem lhes
prestar
É essa a Baixada que queremos para morar?
Não, não podemos nos conformar
Então, avante defensores, vamos continuar lutando para
transformar
Lutando para transformar! Lutando para transformar!

Dores irreparáveis nos atravessam todos os dias. A perda é uma realidade que dói na alma, mas, em 2007, a Rede de Mães e Familiares de Vítimas de Violência da Baixada Fluminense se deparou com uma forma de violência que, no mínimo, pode ser denominada de perversa. Uma mãe, que teve seu filho levado na porta de casa, na frente do irmão. Seu nome é Alex, tinha 15 anos de idade e agora está desaparecido. Desaparecimento forçado é o nome dado para esse crime.

Para a Rede, encontrar essa mãe que ainda acreditava que o filho estava vivo, que a qualquer momento seria encontrado, que voltaria para casa, ou até que estaria em algum lugar, em cárcere privado ou na rua perdido, desmemoriado, em algum hospital, ferido ou desacordado, era o apego, a esperança de que vivo ele estaria e que ela iria reencontra-lo. O que nos cabia fazer era abraçá-la, acolhê-la, apoiá-la, estar ao seu lado. Como dizer a ela que aceitasse que o seu filho estava morto se ela não tinha o corpo para enterrá-lo? As idas e vindas na delegacia, no Instituto Médico Legal, em hospitais. Começava ali uma via-crúcis sem fim. A polícia dizia que estava fazendo buscas…

Nós acompanhamos essa angústia por respostas e elas não vieram. Os anos foram passando e mesmo não tendo respostas, essa mãe não aceita a perda de seu filho. Cemitérios clandestinos foram achados, seu DNA foi comparado e nada foi encontrado. Tiraram a vida dessa mulher, a sua alegria de viver, a saúde mental dela e de sua família. Em 2021, o pai de Alex faleceu de uma doença que adquiriu pelo sofrimento de ter seu filho levado. E o pior: não se despediu dele e nem viu seus algozes serem punidos.

Daí por diante, vários outros casos foram acolhidos pela Rede e todos continuam sem respostas. O que resta são mães e familiares adoecidos. Os desaparecimentos forçados têm aumentado de maneira assustadora nos territórios da Baixada. Não há dados oficiais. A dificuldade já começa porque são muitas as pessoas que não se sentem seguras para denunciar e fazer boletim de ocorrência, pois moram na região e têm medo de represálias. Outras fazem, mas os casos são tratados com menosprezo. As famílias não são comunicadas do andamento do inquérito policial, como se isso não tivesse importância, a menos que ganhe mídia. E mesmo assim depois são esquecidos, as investigações e buscas são feitas por um determinado tempo e depois elas se encerram.

O processo é arquivado. Essa violência só faz crescer a cada dia. Desaparecimento forçado se tornou uma prática constante nesse território, casos que só aparecem se ganham visibilidade na mídia, e mesmo assim, temporariamente, até outro caso acontecer e o anterior ser esquecido. Ninguém consegue avaliar o tamanho desse sofrimento, apenas quem passa por ele. Escutemos, portanto, o relato de Einstein, que viveu e vive esse drama.

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