¹ Entrevista realizada oralmente via WhatsApp, em 21 de novembro de 2023. A conversa deu origem a um episódio do podcast Radar Saúde Favela, e, agora, editamos parte do material e publicamos no formato entrevista.
Márcia Mura, seja bem-vinda. Para começar a nossa conversa, você poderia se apresentar e contar um pouco da sua história, da sua trajetória?
Eu sou mulher guerreira, do Rio Iruri, rio que treme, atual Rio Madeira. Rio com os direitos mais violados na Amazônia. Eu sou Coordenadora do Coletivo Mura, que atua com famílias em contextos urbanos, ribeirinhos e extrativistas no Rio Madeira.
Nosso coletivo também está interligado às lutas do nosso povo, que vive em contexto demarcados e reivindicados, e em contextos urbanos, em Manaus e em todo o Amazonas e Rondônia. Faço parte do Coletivo Mura de Porto Velho que atua na cidade e nas comunidades às margens do Rio Madeira para o lado de Rondônia. Estamos interligados diretamente a Autazes, Manaus e Itacoatiara. Temos conversas também com parentes em Borba e atuamos mais diretamente com os Mura do rio Itaparaná, que é um território bastante invadido e bastante ameaçado. Nós estamos lá, nessa luta, juntos, para a demarcação do território, que é a nossa referência cultural, nossa referência espiritual. Também sou articuladora da Articulação das Indígenas Mulheres Mura em diferentes contextos de Rondônia e do Amazonas, de territórios demarcados, em reivindicação, contexto urbano, ribeirinho e extrativista.
Foto: Acervo pessoal Márcia Mura
Parte das representações coloniais sobre o lugar dos indígenas na sociedade e na própria ideia de nação consistiu em afirmar uma imagem do indígena como aquele que vive na floresta, na aldeia, menos na cidade. E vale dizer que indígena é uma palavra que passou recentemente a ser utilizada como crítica ao vocabulário colonial que até então nomeava através da palavra índio. Quem são os indígenas vivendo em contexto urbano e o que é isso que se chama de “urbano” na região do Rio de Madeira?
Eu nasci em uma comunidade de São Domingos que se constituiu nas proximidades de um barracão que recebeu borrachas. Essa comunidade foi formada a partir da década de 60, no período de decadência dos seringais na Amazônia. E as famílias das margens do Rio Madeira, aqui para o lado de Rondônia, famílias que vinham do Amazonas para trabalhar no espaço de seringal, foram, aos poucos, para essa comunidade, formando essa comunidade onde vivia a família do meu pai. A família da minha avó que vivia no Baixo Madeira trabalhando nos seringais, depois da morte do meu avô materno, também foi para a cidade. Foram morar em lugares alugados, não tinham casa própria, em um bairro chamado Triângulo, que foi um dos primeiros bairros da cidade de Porto Velho. Então, eu nasci nessa localidade, que era uma espécie de vila, que não existe mais, faz parte da cidade, fica perto de um Igarapé chamado Igarapé Burrinho que está ligado ao rio Madeira, que hoje é o esgoto da cidade. Outra situação é, além dos conflitos e das invasões, da falta de políticas públicas de educação e saúde nestes territórios, tem as situações que as pessoas acabam vindo pra cidade, para fazer um tratamento de saúde, para estudar, e acabam por ficar. Quem tem seu povo, seu território, consegue manter essa relação entre cidade e território; quem já vem sendo sobreposto há uma década já vive na cidade sem ter essa relação direta com o seu território. E no nosso caso Mura, a gente tem buscado visibilizar nosso território, que é o Território Mura, que é o Rio Madeira e a cidade de Porto Velho que é nosso território de memória.
Foto: Acervo pessoal Márcia Mura
São várias frentes que temos aqui no Rio Madeira, para o lado de Rondônia. Nós temos atuação direta nesse processo de recuperação de memória indígena em Porto Velho, na Reserva Extrativista Rio Ouro Preto, em Guajará-Mirim, já na fronteira com a Bolívia, na comunidade Maravilha, de frente para Porto Velho, na comunidade de Cavalcante, Curicaca, de Nazaré, de Bonfim e na comunidade de Calama. Estamos fazendo uma aproximação aos poucos com a reserva extrativista Cuniã. Então, a gente está nessa luta intensa, de enfrentamento ao etnocídio, que nega a nossa cultura, e ao epistemicídio, que invisibiliza, que não reconhece os nossos conhecimentos indígenas. Então, é essa luta que a gente enfrenta, além do ecocídio, de várias violações de direitos, direitos dos rios, das matas e dos seres que habitam esses espaços.
Nós esperamos que a partir desses novos dados do IBGE, possam gerar políticas públicas voltados para os indígenas que se encontram na cidade, mas também que se encontram em outros contextos, ribeirinhos e extrativistas. Aqui, na comunidade de Nazaré, pela primeira vez houve algumas famílias que se declararam indígenas no IBG, também graças a todo esse trabalho que a gente faz, enquanto coletivo indígena, e ao trabalho que eu fiz, enquanto educadora, na escola, e continuo fazendo na comunidade.
Cresci vendo minha mãe e minha avó, que me criaram, porque eu tinha ainda nove meses, quando minha mãe se separou do meu pai e voltaram para cá, para o Distrito de Nazaré, onde eu moro hoje, mas não estou conseguindo permanecer aqui, pois fui tirada da escola e precisei assumir sala de aula na cidade. Eu fiquei aqui com a minha avó por um tempo, e a minha mãe, depois minha mãe voltou para a cidade, para trabalhar e fiquei com minha avó nos primeiros dias de vida, da minha infância. Acredito que eu tinha uns quatro anos, quando fui para a cidade novamente com a minha avó, mas a gente sempre vinha pra cá, visitar os parentes. Tenho isso na minha memória, até os dez anos de idade a minha avó me trazia para Nazaré e para Boa Vitória, onde também temos uns parentes. Depois ela não me trouxe mais, porque ela dizia que eu ficava só querendo pular na água, com os curumins, mas também devido aos estudos, não dava para ficar me trazendo todas as vezes em que ela vinha para Nazaré e para outras localidades.
Foto: Acervo pessoal Márcia Mura
Eu cresci tendo essa relação com a floresta, com os rios, com os igarapés, com as águas e as matas. Eu sou aquilo que a minha avó me ensinou, mesmo ela não me dizendo muito sobre o que era, ela me ensinou a ser Mura. Fui tomando essa consciência aos poucos. Até os dezoito anos, quando comecei a trabalhar diretamente com os Povos Indígenas de Rondônia, trabalhava como recepcionista, e depois assumi um grupo de apoio aos povos indígenas, em Rondônia. Assumi o grupo de apoio, em Porto Velho, e participava da formação que era dada para esses grupos, que estavam no estado de Rondônia e eram formados pelo Conselho Indigenista Missionário. Depois eu segui meu caminho, entrei na Universidade, fui a primeira da minha família a entrar na Universidade, foi uma comemoração muito grande dos meus familiares. E, entrando na Universidade, eu já tinha uma consciência crítica, uma formação política. Participava da pastoral da juventude, e lá a gente tinha uma formação, que depois eu fui me dar conta que era uma formação Marxista, pois vinha da Teologia da Libertação. Essa formação que fez com que eu saísse da igreja, inclusive, e rompesse com essas ideologias todas, e aos poucos, fui me aproximando mais da minha memória, que era tão invisibilizada, que é a memória indígena na minha família.
Ailton Krenak disse em algum lugar e está registrado em um de seus livros que: “A cidade virou a caixa-preta da civilização. O corpo da Terra não aguenta mais cidades, pelo menos não essas que se configuram como uma continuidade da pólis do mundo antigo, com gente protegida por muros, e o resto do lado de fora – que pode, inclusive, tanto ser bichos selvagens quanto indígenas, quilombolas, ribeirinhos, beiradeiros”. E para você Márcia, o que a cidade representa?
Para mim a cidade é um lugar de exclusões, um lugar de muitas disputas, de indiferença. É um lugar que adoece as pessoas. Eu mesma não consigo mais viver na cidade. A cidade é esse lugar em que as pessoas vivem para trabalhar, quando conseguem um trabalho. Muitos vivem em condições de sub-trabalho, em função de um consumismo.
Tudo tem que ser comprado, comprado, comprado. O espaço da cidade gera relações de individualismo, cada um por si.
“Enfim, a cidade para mim é um espaço
que é muito difícil de viver. Mas que também
acontecem vários movimentos; na cidade
de Porto Velho tem vários coletivos, vários
movimentos, buscando trazer pertencimento
ao lugar, que também é território indígena.
Antes de tudo, antes da cidade, é território
indígena. Não foi o território indígena que se
deslocou para a cidade, não foram os povos
indígenas que foram para a cidade, foram as
cidades que foram construídas em cima dos
nossos territórios. E é preciso reconhecer isso
na cidade.”
Trazendo para o presente aqui, em Porto Velho, com a resistência de vários povos, como seria importante o reconhecimento desses povos, em Porto Velho e em outros municípios de Rondônia, como Guarajá- Mirim, onde tem o maior número de indígenas na cidade estatística e visualmente falando; mas acredito que em todos os municípios têm uma grande quantidade, só que na maioria são invisibilizados. Seria importante reconhecer esses povos e reconhecer as cidades como pluriculturais, reconhecer as diversas línguas indígenas, os diversos fazeres indígenas que se encontram na cidade e se mantém no interior das famílias. Porque por mais que muitas famílias não se apresentem e não se declarem como indígenas, mantêm o seu modo de ser indígenas no interior dessas famílias, no encontro dessas famílias.
A cidade é um lugar onde estão presentes também os órgãos burocráticos, nos quais a gente precisa estar presente para lutar pelos nossos direitos. Como no Ministério Público Federal, Estadual, assim como nas instâncias administrativas. A cidade também é um lugar do indígena e a nossa presença precisa ser reconhecida na cidade. A cidade precisa criar espaços dignos para esses povos indígenas, que estão na cidade.
Foto: Acervo pessoal Márcia Mura
Você tem criticado as formas como certas pesquisas e pesquisadores têm retratado e representado a região do Rio Madeira através de narrativas que apagam as presenças indígenas. Você poderia nos falar um pouco sobre sua reflexão a respeito desse ponto e também sobre as presenças indígenas e suas cartografias e territorialidades na região do Rio Madeira?
Seria importante, inclusive, que os pesquisadores que vêm fazer pesquisa nas comunidades do Baixo Madeira se atentassem para isso. Por mais que as suas pesquisas não sejam voltadas para os indígenas, que sejam voltadas para as comunidades ribeirinhas, que eles se atentem para a existência das famílias indígenas em contextos ribeirinhos. Porque a pesquisa não é uma camisa de força e o pesquisador tem de estar aberto para aquilo que ele encontrar em campo. Se ele vem em busca de famílias de ribeirinhos mas, entre elas, encontra famílias indígenas, ele não pode ignorar isso. Ele precisa dar visibilidade também para essas famílias, se não ele vai estar colaborando com esse projeto de invisibilidade e etnocídio também, mesmo que não seja esse o seu propósito. Então, seria importante que os pesquisadores e as pesquisadoras que chegam nestas comunidades tivessem esse compromisso de visibilizar essa presença indígena no Baixo Madeira.
Quem são os povos indígenas que fazem parte de Porto Velho e do Rio Madeira, e demais parentes indígenas que hoje vivem em Porto Velho? Porto Velho, antes de tudo, é território de memória Mura. Existem muitas famílias Mura que vivem em Porto Velho, tanto as que são originárias daqui do Rio Madeira, pro lado de Rondônia, que vivem em contexto ribeirinho, que foram e continuam indo para a cidade, quanto famílias Mura que saem de outros lugares do Amazonas. Tem muita família Mura que sai de Manicoré, Amazonas, e vive em Porto Velho, e nosso coletivo vem, aos poucos, localizando essas famílias. Faz parte também, está ligado a Porto Velho, o povo Karitiana, que tem suas terras indígenas demarcadas, mas também estão recuperando outros territórios, que são hoje ocupados por fazendeiros. Tem o povo Karipuna, no Rio Jaci-Paraná, que está a 70 quilômetros de Porto Velho, mas que está ligado a Porto Velho. E tem vários outros povos, famílias de outros povos que estão ali. Tem os Palmari que uma parte deles vive no bairro Nacional, e outra parte vive embaixo do linhão, de alta tensão, porque é o único espaço que eles encontraram, para fazer suas moradias. Tem o povo Guarasugwe, tem povo Apurinã, tem muitas famílias Apurinã. Tem o povo Warao, da Venezuela, que o coletivo Mura também apoia, tem o povo Mukuá, que foram tiradas as suas condições de existência, enquanto povo. Encontra-se apenas uma família, que vive em Porto Velho. Nessa família há uma grande guerreira, que é a Mukua, que eu admiro muito, que vem recuperando a memória do povo dela, por meio da alimentação tradicional, trazida pela memória afetiva que ela tem, da avó dela. É um trabalho muito lindo, que ela faz! Tem diversos povos indígenas de Rondônia mesmo, que vivem em Porto Velho, como também de outros países e de outros estados do nosso território. Essas famílias estão em Porto Velho por diferentes situações. Por situações de terem sofrido massacres, como o caso do povo Mukuá, por situações de terem seus territórios invadidos, como o caso do povo Mura, que, hoje, Porto Velho nem menciona a existência dos Mura. A memória de ocupação Mura, de existência Mura em Porto Velho é sobreposta por uma cartografia oficial, que não reconhece os Mura no Rio Madeira, pro lado de Rondônia, porque nessa região se sobrepôs os seringais, que resultaram nas comunidades ribeirinhas, que, embora mantenham seus modos ser indígenas, muitos deles não conseguem interligar isso às suas origens indígenas. Mas, com o trabalho que nós temos feito, de recuperação de memória indígena, algumas famílias, não só em Nazaré, como também em outras comunidades, que já foram mencionadas, estão apresentando suas afirmações indígenas e estão entrando neste movimento junto com a gente, de recuperar as memórias indígenas no Rio Madeira e de recuperar a presença Mura no Rio Madeira, e de outros parentes.
Foto: Acervo pessoal Márcia Mura
Infelizmente, muitas dessas famílias que estão
no espaço urbano encontram-se em situações
de vulnerabilidade, encontram-se nas
margens sociais, porque as famílias indígenas
na cidade encontram muitos desafios,
acabam sendo mão de obra barata e vivendo
só para garantir o alimento, muitas vezes não
conseguem, e isso acaba fazendo com que
eles nem consigam se manter interligados nas
suas relações com o ambiente inteiro, com
a floresta, com os rios, e mesmo se interligar
com o seu pertencimento indígena na cidade,
porque acabam precisando viver só em
função de se manter vivos, né?
E eu percebi muito isso na época da pandemia, em que a gente buscou apoio não só para as famílias Mura, mas também para famílias de outros povos, em que eles foram negligenciados em todas as políticas públicas, não tiveram direito à vacina, o SUS superlotado. Eu fico pensando, se a gente não tivesse conseguido apoio de aliadas e aliados para acolher essas famílias, para levar para fazer uma consulta, um exame na rede privada, tinha morrido muito mais gente e morreram bastante pessoas, ficaram subnotificadas. E agora a gente fez uma campanha muito grande, movimento indígena da autoafirmação, movimento indígena que se encontra na cidade a nível nacional.
Como tem sido o movimento mais recente de retomada das identidades e mobilizações indígenas na região do Rio da Madeira? O que vocês têm enfrentado nessa luta política?
Sobre o movimento mais recente de retomada das identidades e mobilizações indígenas na região do Rio Madeira, nós temos enfrentado diretamente muitas perseguições, perseguições diretas à minha pessoa e à outra educadora, Mura, aqui do Baixo Madeira, pelo fato de sermos articuladoras de pessoas indígenas que vivem em contexto ribeirinho, não só do povo Mura, como também de outros povos, e por estar fazendo essa incidência política no Baixo Madeira, fazendo essa recuperação indígena Mura e de outros parentes, demarcando esse território com nossos corpos, espíritos, e isso tem gerado muitos enfrentamentos com instituições, infelizmente instituições da escola estadual, que não têm recebido a nossa proposta de fazer esse trabalho de afirmação indígena, de, inclusive, executar a Lei 11.645, que é uma lei para obrigar o ensino da cultura indígena e da cultura afro na escola. E fazer essa lei acontecer não é simplesmente no dia dos povos indígenas, que não é o dia do índio, que já foi tirado esse nome, inclusive legalmente mesmo, por meio de uma ação da parenta Joênia Wapichana, quando ela era deputada federal, propôs essa mudança do nome do dia do índio para o dia dos povos indígenas. Então, não é simplesmente no dia dos povos indígenas fazer uma atividade totalmente estereotipada sobre nós indígenas e dizer que está aplicando a Lei 11.645. Então, não há espaço, não há acolhimento para que nós possamos fazer o nosso trabalho, que é garantido pela Lei 11.645 e que deve ser aplicada em todos os componentes curriculares.
Diretamente a mim, esse ataque vem sendo feito com a minha retirada da escola, da escola estadual que se situa na comunidade de Nazaré, onde fazem a distorção de vários acontecimentos em que se deram enfrentamentos por conta de uma política de embranquecimento na escola, de embranquecimento e de cristianização, onde não se garante o direito de uma escola laica e onde não se garante o direito de uma escola ligada à floresta e aos rios, onde não se garante uma educação do campo que considera a realidade da sua comunidade, onde foi retirado da proposta de plano de ensino do projeto político-pedagógico o histórico sobre o Rio Madeira, onde traz presente a memória de ocupação mura nesse rio. Então, é um projeto mesmo de etnocídio e de epistemicídio declarado que vem se dando aqui no Baixo Madeira.
Para finalizar, Márcia, eu gostaria de agradecer muitíssimo a sua participação, e fazer uma última pergunta: você é historiadora, professora de história, e foi removida da escola onde trabalhava sob a acusação de “insistência em inserir a temática indígena” no currículo e no ambiente escolar. Gostaria que você comentasse essa situação e como anda o diálogo da escola, especialmente a escola pública, com a história indígena.
Sobre o diálogo da escola pública com a história indígena, não tem acontecido da forma como deveria acontecer, raras exceções, existe algum diálogo, de fato, que considere a história indígena, contada e escrita pelos próprios indígenas. Ainda nos livros didáticos, por conta da Lei 11.645, já vem algumas questões sobre os povos indígenas, mas ainda estão presentes muitas questões estereotipadas. E aqui no estado de Rondônia, olha, eu acho difícil encontrar uma escola que, de fato, esteja cumprindo com a lei 11.645 da forma de como ela deve ser executada. E especialmente no Baixo Madeira isso não existe. O que existe é a imposição de uma educação embranquecedora, uma educação cristianizada, uma prática etnocida e epistemicida.
Foto: Acervo pessoal Márcia Mura