“Muita gente acha que política é uma coisa e cidadania é outra, como garfo e faca, e não é. Política e cidadania significam a mesma coisa. Não existe sucesso e felicidade sem o exercício pleno da Cidadania e da ética global. Cidadania é um vírus Benigno que a sociedade brasileira precisa se deixar contaminar”.
Após um ano de pandemia e mudanças no comportamento social, algo que nos assustava era a pergunta: como será o futuro? Não existia nenhuma perspectiva de melhora em relação a saúde, educação e cultura na nossa favela. Hoje essa pergunta não nos aflige porque apesar da ausência dos órgãos responsáveis, nós decidimos criar eventos/atividades que possam contribuir de alguma forma para o enfrentamento desse período pandêmico que estamos passando.
Foi nesse contexto de violência e descaso governamental que encontramos força inspiradora para realizar ações que possam reverter os impactos negativos gerados pela Covid-19.
E com o objetivo de fomentar a cena cultural e levar esperança através da arte, nasceu o coletivo Manguinhos Cria, da união de produtores culturais, educadores, artistas e crias da região em celebração à vida! Nossa primeira intervenção como coletivo organizado foi o 1º Festival de Graffiti do Manguinhos, onde tivemos a oportunidade de contribuir diferentes esferas da sociedade que sofreram perdas durante a pandemia.
O contato com artistas de graffiti de outros estados possibilitou o intercâmbio cultural inter-regional entre estilos de diferentes regiões, que tiveram uma experiência singular em grafitar um muro de uma favela. Além desta troca, os artistas contaram com uma ajuda de custo que tinha como objetivo cobrir parte do gasto material e de alguma forma auxiliar os custos de vida do grafiteiro. Entendemos que esta classe de artistas foi duramente afetada durante a pandemia e o Festival de Graffiti em Manguinhos buscou auxiliá-los neste sentido.
Imagem: Sara Fernandes @sar4fernandes
Os grafiteiros foram instruídos a deixarem as crianças participarem das pinturas, esta ideia vem da nossa preocupação com as crianças que, por conta da pandemia, estão ausentes do espaço escolar, espaço este que na maioria dos casos é a única fonte de cultura e arte para as crianças da favela. Neste sentido o Festival de Graffiti em Manguinhos também veio para tirar as crianças dessa ociosidade e proporcionar um dia lúdico com atividades de pintura junto aos grafiteiros.
Outro aspecto importante do evento neste contexto de pandemia foram as 50 cestas básicas distribuídas durante o festival. Desta forma, conseguimos unir a comida e a arte numa mesma ação no território: a comida como alimento material fundamental nesse período de pandemia onde muitas pessoas passam dificuldade e a arte, o alimento imaterial que contribui para suportar os dias difíceis enfrentados pelos moradores de favela.
Produzir o Festival de Graffiti convidando artistas de outros locais só foi possível graças ao esforço coletivo de diferentes agentes que contribuíram de diversas formas, tivemos apoio em relação ao custo do evento pedindo doações pelas mídias sociais, recebemos jornalistas e fotógrafos que cobriram o evento e também recebemos as doações de cestas. Desta forma foi possível atuar em diferentes frentes de batalha no enfrentamento à Covid-19. “O sorriso das nossas crianças e o consentimento dos mais velhos é o que nos motiva. Somos protagonistas do nosso destino. Sabemos que a mudança virá, pois estamos trabalhando para isso. E faremos muito mais, até que as nossas escolas funcionem de verdade. Até que nosso povo tenha um trabalho digno e ócio criativo para contar as nossas histórias. Somos o coletivo Manguinhos…Cria.”
Imagem: Sara Fernandes @sar4fernandes