Desigualdade e mobilização social favelada

Paloma Gomes, professora, jornalista popular do Fala Manguinhos, voluntária do Manguinhos Solidário e compõe o Conselho Comunitário de Manguinhos
Imagem: Acervo Manguinhos Solidário

A desigualdade no Brasil é nítida, a riqueza da população brasileira que era concentrada em 45 pessoas, atualmente, foi para 65. Somos mais de 210 milhões de brasileiros, dados que mostram o IBGE e que foram disponibilizados em agosto do ano passado. Ou seja, é um país onde as contradições são muitas, principalmente, pelo fato de ter muita gente em estado de vulnerabilidade total e um grupo tão pequeno – quando comparado com os dados da população já apresentados – detentores de um faturamento que supriria a necessidade de todos os demais.

Quando se olha para um país que tinha tudo para ser avançado, plural, rico, podendo até mesmo ser suporte para outros países, como já foi um dia, é muito frustrante o sentimento que é gerado. Não que isso chegue com a a recente onda fascista, com todas as palavras de sufixo “ista”, que remeta a um projeto doutrinador genocida. Não! Esse momento atual reflete uma população completamente despreparada, desinformada, manipulada, que consegue externar o ódio, cometer atrocidades, mas não conseguem tirar a venda de seus próprios olhos.

Por muitas gerações de poder que passaram pelos nossos governos durante todo esse tempo, não houve uma preocupação em de fato modificar realidades, mas sim, atenuar ainda mais o que já era gritante. Mesmo, com a chegada de alguns tentando amenizar e equilibrar, com discursos de conciliação de classes, entre outros, não puderam conter as consequências inevitáveis de um sistema capitalista neoliberal. Ainda deixaram brechas para alimentar novas estratégias, se utilizando do avanço da tecnologia, as ondas de Fake News incansáveis, que continuam a manter projetos conservadores.

Imagem: Acervo Manguinhos Solidário

Sem oportunidades, sem investimento em educação, saúde e lazer, crianças, adolescentes e jovens não se encontram na sociedade, ficam lançados a sorte, claro que essa parte citada possui endereço certo, a favela; é lá que estão os resultados de um país que prioriza a economia e interesses pessoais acima de tudo e qualquer coisa, até mesmo de uma pandemia mundial.

É na favela que os “mimis” ficam mais em evidência, as dores que uma minoria privilegiada não consegue sentir, lateja nas costas de uma mãe de um território entregue ao descaso e à margem social. No trabalho voluntário do Manguinhos Solidário, que atua na favela de Manguinhos há mais de 6 anos, a maior parte da população que chega atrás de ajuda, são as mulheres.

Imagem: Acervo Manguinhos Solidário

São elas, mães, em alguns casos adolescentes, umas trabalham, outras não. Mesmo assim, quando trabalham, são sempre em situações de funções precárias, a maioria sem nenhuma formação, mas que lutam para dar aos seus filhos condições melhores das que viveram e, ainda assim, não conseguem. Falta orientação, falta condição, falta tudo. Não há incentivo, não há programas que acolham essas mulheres para que elas possam transformar seu entorno.

Contudo, a fome é uma inimiga próxima, os governantes fazem pouco ou quase nada, a geladeira vazia, o auxílio emergencial, que não é tão emergente assim para quem o aprova, demora a sair e quando vem, o valor que é liberado não é suficiente para o sustento básico, o que dirá digno de um núcleo familiar. Tudo corrobora para ações que não solucionam efetivamente, mas atendem as demandas de grandes urgências, as ações voluntárias de solidariedade que vem se levando nos territórios de favelas.

Moradores, trabalhadores, crias, se organizam para estruturar um trabalho de doações, cada qual com suas estratégias, mobilizam suas redes de contatos, de conhecimento para realizarem ações mensais, até mesmo quinzenais, em seus territórios. Amigos, amigos de amigos, pessoas físicas de instituições e de partidos, etc., são acionados com divulgações de campanhas, vaquinhas on-line, contas bancárias, entre outros meios, para entrarem nessa luta chamada solidariedade, afeto positivo, que tentam manter nas pessoas, mesmo em meio a todo esse caos a que estamos acometidos.

Imagem: Acervo Pessoal Manguinhos Solidário

Seguiremos firmes na luta sempre, a favela transforma o luto em verbo: aqui não temos tempo para recuar, só para avançar. Os problemas são muitos, mas a fé no povo, com muita energia positiva, sem deixar a esperança morrer, florescem, pois somos sementes e foi para isso que fomos colocados onde estamos. Vamos avante, poder para o povo.

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