Diálogo sobre retorno às atividades escolares presenciais

Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio Janeiro (Sepe/RJ)
Imagem: Comissão de representação sobre retorno às aulas presenciais – Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro.

A pandemia impôs modificações ao convívio social e estamos tentando nos ajustar diariamente a essa nova realidade tão dura, na qual precisamos nos isolar para preservar nossas vidas e a das outras pessoas. Cumprir o isolamento não é uma tarefa fácil para o ser humano que é, de acordo com Marx, “um animal social”, pois não pode ser privado de estar em sociedade.

Diante do cenário pandêmico mundial, as atividades presenciais nas instituições de ensino foram suspensas a fim de evitar aglomerações e propagação do vírus.

Cabe ressaltar que o município do Rio de Janeiro tem a maior rede da América Latina, com 1543 unidades escolares, 39.815 professores, 13.862 funcionários administrativos e 641.564 estudantes, além dos terceirizados responsáveis pela limpeza e merenda escolar, o que representa um convívio diário de 700 mil pessoas. Some-se a isso os responsáveis, que utilizam transporte público, totalizando 1 milhão de pessoas em circulação na cidade do Rio de Janeiro, que conquistou o triste ranking de atingir a maior média de mortes por Covid-19 no país: onde a população precisa enfrentar ônibus superlotados para chegar aos locais de trabalho, e clínicas da família são fechadas em plena pandemia.

Não há justificativa plausível para reabrir as unidades escolares nesse cenário. É uma tragédia anunciada e um desrespeito às vidas!

Desde o início da pandemia, o sindicato vem cobrando dos governos a apresentação de medidas exequíveis, que possibilitem o retorno das atividades escolares presenciais de forma segura. Elencamos alguns pontos baseados em orientações discutidas em um comitê com

mais de 60 entidades para que possa ocorrer o retorno: redução do número de casos de Covid-19, disponibilidade de leitos nos hospitais, vacina para todos os profissionais de educação, recursos humanos e estruturais adequados.

O governo se limitou a apresentar protocolos que não são possíveis de efetivar nas atuais condições das unidades escolares e representam ameaça à vida. Protocolos que exigem um distanciamento entre as crianças, inviável no caso da Educação Infantil, que indica que os estudantes não podem conversar durante as refeições, além das questões de higienização do ambiente, impossível de se realizar no momento, pois o contrato dos terceirizados foi encerrado.

Diante da ineficiência dos governos em apresentar medidas concretas para o retorno com segurança, os profissionais de educação deliberaram em assembleia a greve em defesa da vida com a manutenção das atividades remotas, a fim de manter o vínculo com a comunidade escolar.

Contudo, os meses se passaram e os constantes debates sobre a Educação em época de pandemia trouxeram muitas reflexões sobre o papel e a importância da escola diante da crise gerada pelo Covid-19. Como manter o vínculo através das redes sociais com famílias que

em sua grande maioria perderam sua fonte de renda e não têm acesso ao básico para sobreviver?

As desigualdades ficaram mais evidentes nesse período, principalmente a falta de bens essenciais como acesso ao saneamento básico, alimentação e até a água, cantada pelo poeta “você sabe que no morro não cai água na torneira”. Nosso maior desafio tem sido manter o vínculo com nossos estudantes que são excluídos pela falta de políticas públicas ao acesso a bens essenciais. Por isso o sindicato incluiu entre suas reivindicações a garantia da segurança alimentar aos estudantes, assim como a garantia de acesso tecnológico. Não somos contra o retorno das atividades presenciais, mas defendemos as condições para que a escola continue sendo lugar de vida, partilha, afeto e principalmente construção do conhecimento. É esse espaço vivo e dinâmico que o Sepe defende e luta para que os filhos e filhas da classe trabalhadora tenham acesso a uma educação pública, laica, de qualidade e com garantia à vida. Corroboramos com a visão de Paulo Freire ao afirmar que:

Escola é
… o lugar que se faz amigos.
Não se trata só de prédios, salas, quadros,
Programas, horários, conceitos…
Escola é sobretudo, gente.
Gente que trabalha, que estuda
Que alegra, se conhece, se estima.
O Diretor é gente,
O coordenador é gente,
O professor é gente,
O aluno é gente,
Cada funcionário é gente.

Gente que tem direito à vida e que os profissionais de educação defendem permanecendo em greve pela vida e exigindo vacina!

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