O texto a seguir corresponde a um trecho de uma fala de Marina Ribeiro durante uma roda de conversa virtual organizada pelo informativo Radar Covid-19 Favelas no dia 04/02/2021.
A demanda de pensar o acesso a alimentos na Zona Oeste é gritante. Todo o processo que temos trabalhado, de distribuição de alimentos e mais uma campanha criada pela própria Teia para pensar acesso a alimentos da agricultura urbana (alimentos frescos) tomou e tem tomado muito tempo. Há todo um processo que implica em fazer a compra com os agricultores locais e fazer com que esses alimentos cheguem às famílias que pertencem a essa rede, essa frente, que construímos a partir da Teia de Solidariedade da Zona Oeste.
A demanda por alimento é fundamental e junto a isso reforçar que uma das questões que penso ser primordial é a renda básica emergencial. Esse debate precisa ganhar corpo. A gente não pode não colocar isso como uma questão central. O desemprego segue aumentando. A renda básica emergencial carioca já foi aprovada, mas precisa ser executada. É preciso também uma pressão da sociedade para que isso aconteça, o novo prefeito, com seu secretariado precisa assumir esse compromisso.
Na Zona Oeste nunca teve melhora nesse processo que há em comum com as favelas e periferias com relação ao desenvolvimento: as casas sem estrutura, o tratamento que as pessoas recebem, não ter um analgésico na farmácia popular, uma situação que vai além do contexto negacionista.
Como é que a gente pode pensar uma campanha que de fato esclareça a importância da vacinação? No sentido de esclarecer para as pessoas a importância da vacina, de recuperar a campanha, para além de dizer somente da importância de um calendário de vacinação e das prioridades; mas uma campanha que discuta a importância da vacinação e que seja para todas as pessoas. Porque tendo como referência a Zona Oeste, o transporte público sempre esteve lotado, sem nenhum tipo de estrutura para garantir a vida dos trabalhadores. Então todos esses trabalhadores teriam que tomar a vacina, tem que ser prioridade.
Garantir a vida da classe trabalhadora vai além do enfrentamento de outras questões como a da segurança pública e da violência que se agrava nesse contexto. Incluir, por exemplo, a questão dos locais que não têm água e que, quando têm, é essa água com gosto de barro, essa água de merda – desculpa a palavra, mas é isso que tá acontecendo. Vi uma companheira compartilhar esses dias uma foto de uma mulher com uma lata d’água na cabeça, poderia ser na década de 80, mas não, estamos em 2021 e isso está acontecendo o tempo inteiro. Precisamos trazer para o debate esse contexto da água. É tudo para ontem, né!?Tudo sempre foi para ontem! Então como é que a gente pode colocar todas essas questões que atravessam as favelas e periferias e fortalecer as lutas? Realmente a gente tem essa força de se organizar para a luta, de ter solidariedade; a gente precisa canalizar isso.
Esse ano a luta deve ser para pressionar os governos. Não tem saída se não houver incidência política pesada. E que a gente possa construir algum tipo de pressão, se mobilizar e ampliar a informação. Que a gente possa ter força para lutar contra esse processo de negação desse momento, que se dá em condições estruturais, ele não se dá só pelo fato de declarar: “Eu não creio na vacina”, “não tenho medo da doença” e o “eu não tenho outra saída que não seja está na rua trabalhando”. Então, isso é gritante na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro: o aumento das mortes – seja por Covid, seja morte materna no período da Covid.
A gente também teve um aumento de mortalidade pela falta de acesso das mulheres ao direito sexual e reprodutivo. Então tem um conjunto de coisas que só pioraram e que precisam mudar. E a gente sabe que esse ano a luta não vai ser diferente.