Juventude de Manguinhos segue na luta pela educação e pela vida!

Ingridy Maura Moura Silva – Moradora de Manguinhos e militante do Levante Popular da Juventude. Jhonas Magalhães – Morador de Maguinhos e militante do Levante Popular da Juventude. Lucília Aguiar – professora do Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila e militante do Movimento de trabalhadoras e trabalhadores por direitos
Ocupação do Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila em 2016 Imagem: Benjamin Fogarty

Vivenciamos uma crise sanitária que coloca em risco a vida das pessoas, especialmente aquelas que, historicamente na sociedade brasileira, não acessam os direitos sociais garantidos na Constituição Cidadã de 1988. Se soma à pandemia do Covid-19 um quadro de perda de direitos da classe trabalhadora imposto pelo atual governo, cuja expressão maior é o desemprego e a precarização do trabalho; mais uma vez quem paga a conta do projeto ultraliberal tem endereço, classe, cor e gênero.

O território de Manguinhos historicamente sofre com os mais diversos tipos de violência. A maior hoje sofrida por homens, mulheres, jovens desse território é violência do Estado que retira cotidianamente a possibilidade de uma vida digna e de uma cidadania plena, em que os direitos sociais sejam assegurados de forma plena. Os serviços de saúde, de educação e de assistência social, – que já eram precários – passam por um processo de desmonte durante a pandemia de Covid-19 que assola o Brasil desde março de 2020. A fome é uma realidade hoje, o desemprego e o acesso ao mundo trabalho precário e fragmentado está presente nas casas dos moradores de Manguinhos e o pior é a ausência da perspectiva de futuro enfrentada pela juventude.

Quando a falta de emprego e as formas precárias de geração de renda se fazem presentes, a escolarização de jovens, adultos e crianças se torna secundária pois a necessidade da sobrevivência se impõe, não há escolha. O depoimento de Ingridy, moradora de Manguinhos, ex-aluna do Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila e militante do Levante Popular da Juventude aponta as dificuldades enfrentadas hoje pelos moradores.

“A pandemia me afetou em vários sentidos, como o estudo, o emprego, assim como muitas pessoas que conheço inclusive na comunidade; a saúde ficou ainda mais precária, os colégios sem aula e sem merenda, pois muitas crianças se alimentam das refeições dada pela unidade de ensino”

A educação foi especialmente atingida uma vez que o ensino remoto foi implantado sem um planejamento prévio da secretaria de educação e a maior parte dos estudantes não tem acesso ao mundo digital. Muitas famílias têm apenas um celular para partilhar o uso entre os filhos estudantes; as aulas remotas e as atividades demandas pela escola se tornam inacessíveis para a maioria. Os professores são extremamente cobrados em relação ao alto índice de evasão, no entanto, não há por parte do poder público uma análise sobre os reais motivos dessa evasão.

Outro elemento a considerar com relação ao Colégio Estadual Luiz Carlos da Vila são as constantes invasões sofridas pela escola. Entendemos ser urgente reestabelecer um diálogo entre a escola e os moradores. É urgente que a comunidade se sinta parte da escola, afinal ela é pública! Esse é mais um desafio que se coloca para a comunidade uma vez que a secretaria de educação vetou a possibilidade de consulta a comunidade escolar para a escolha de diretores.

Como organizar o sistema escolar de forma justa e igualitária? Como garantir o direito constitucional à educação numa sociedade marcada pela exclusão digital? Como garantir um processo de ensino/aprendizagem que considere a realidade dos profissionais da educação e dos estudantes pós pandemia? Sabemos que não existem respostas fáceis.

A crise na educação terá consequências graves por muito tempo. Há uma necessidade hoje de rever as prioridades, fazer da escola um espaço de acolhimento e de resistência uma vez que a forma como vem acontecendo a reabertura das escolas coloca em risco a saúde mental de professores e estudantes, muitos sofrendo o luto pela perda de familiares e amigos e companheiros de trabalho. No Compositor perdemos um grande professor e companheiro de luta por direito de Manguinhos, Gilson Alves. A luta pela escola democrática e laica foi o legado que ele nos deixou.

A questão da moradia também é mais um problema enfrentado em Manguinhos, assim como os cuidados individuais e coletivos e a segurança alimentar, como destacam Ingrid e Jhonas (ex-aluno do Colégio Luiz Carlos da Vila e também militante do Levante Popular da Juventude). A ausência de políticas públicas afeta as famílias que hoje só podem contar com a rede de proteção comunitária.

“muitas pessoas que tinham suas casas mesmo que fossem de aluguel tiveram que entregar e ir morar com parentes pois perderam seus empregos, mais mesmo com tudo isso vejo que a comunidade se uniu para ajudar os mais necessitados, como entrega de cestas básicas, doação de cobertores, doação de marmitas, doações de peixe (ONG Viva Jacarezinho), aulas de reforço escolar, e outras atividades extras.”

(Ingrid)

“Assim, na minha vida como a vida da comunidade tivemos que se reinventar na higiene pessoal, na perda de trabalho e passar sem alimentos básicos, sem salário e criar uma autonomia própria, muitas vezes viver da horta comunitária que no mínimo alimenta metade da população da favela”.

(Jhonas)

A solidariedade como política é a forma de enfrentamento que a população de Manguinhos tem construído para sobreviver. Queremos mais, queremos que a política de solidariedade se torne um movimento organizativo desses sujeitos, não só para sobreviver, mas para construir uma vida plena com saúde, educação, cultura… com direitos! É o povo cuidando do povo e buscando a transformação por um mundo mais fraterno.

Esta gostando do conteúdo? Compartilhe

Veja Também