Lugar de favelado é onde ele quiser, inclusive na universidade

Por André Lima, Conselho Comunitário de Manguinhos
Imagem: André Lima

No sábado, dia 19 de março de 2022, no Museu da Maré, tivemos o primeiro encontro presencial do Fórum Favela Universidade (FFU) após o surgimento pandêmico da Covid-19. A necessidade de distanciamento social impactou diretamente na programação planejada para o ano de 2020, o que em determinado momento obrigou-nos a recorrer aos meios virtuais para realizarmos nossos encontros.

A ampliação da vacinação, a queda no número de casos, a cautelar reabertura das atividades sociais – recomendada pelos experts – subsidiaram a retomada presencial de forma responsável.

Como forma de realinhar os debates e ações para o ano de 2022, optou-se pelo mesmo tema e local do 1º Encontro Favelados Universitários, ocorrido em dezembro de 2018, que é visto na memória de seus participantes como um marco importante na história do FFU.

Algumas questões presentes no encontro de 2018 ainda permeiam o debate em 2022, instigando os participantes a um rico processo de reflexão em direção à construção de propostas e alinhamento das ações. A primeira destas questões reside no âmbito das dificuldades materiais e simbólicas do acesso e permanência do estudante, morador de favela, na universidade pública. Neste sentido, cabe referências às falas de alguns docentes presentes que manifestaram preocupações com relação ao Novo Ensino Médio, indicando tal política como algo danoso à educação pública, inclusive, como obstáculo ao acesso ao ensino superior. Ainda sobre esta questão, os presentes – de forma unânime – reafirmaram a importância da política de cotas no acesso ao ensino superior público, e mais, indicaram a necessidade de ampliação da mesma.

Uma segunda questão, tem relação com um certo processo de apagamento da rica produção cientifica dos pesquisadores de origem popular nas favelas. Isso reforça a importância da realização neste ano de 2022 da 2ª Jornada Científica Favelades Universitáries. Atravessando todas as questões, identificado em muitas falas é a questão do racismo. Muitos denunciaram a ausência de professores pretos nas Universidades, bem como da predominância de autores brancos das bibliografias utilizadas em sala de aula, ainda que existam importantes trabalhos publicados por autores pretos. Ainda na questão racial, o aspecto socioeconômico da produção dos espaços urbanos na cidade do Rio de Janeiro e Região Metropolitana revela-nos a recorrente prática de racismo ambiental, que impacta diretamente nas condições de vida, e por conseguinte, nas condições de estudo dos estudantes residentes em favelas e periferias.

Imagem: André Lima

Outra questão relevante presente nas falas do encontro de sábado, é a existência de narrativas embasadas na noção da falaciosa meritocracia e dos empreendedorismos, que contribuem, dentre outras coisas, para tirar a responsabilidade do Estado em garantir os direitos nomeados na Carta Constitucional: saúde, educação, habitação, etc.

Tais processos, produzidos socioeconomicamente para dificultar, e até impedir, que jovens periféricos acessem o ensino superior, trazem consequências danosas – no limite – à toda sociedade, mas agudizadas nas vidas dos moradores de favelas e periferias! Isso nos indigna, e a você? Também? Então, venha somar conosco no próximo encontro do Fórum Favela Universidade! (https://www.instagram.com/forumfavelauniversidade/)

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