Luta e resistência: a V semana do agente comunitário de saúde

Renata Dutra Estudante de jornalismo, comunicadora comunitária e moradora de Manguinhos (com participação de Paloma Silva, estudante de letras, comunicadora comu­nitária e moradora do Jacarezinho; e, Anderson Oliveira, estudante de letras, comunicador comunitário e morador da Maré)
Foto: Esquerda Diário

Este ano, a Semana do ACS, que teve início no dia 4 de Outubro – Dia Nacional do Agente Comunitário de Saúde –, foi um tanto diferente. Por conta do novo Coronavírus, o evento realizado pela COMACS Mangui­nhos (Comissão dos Agentes Comunitários de Saúde de Manguinhos) aconteceu online, no canal da comissão no YouTube.

A quinta edição do evento, que tem como objetivo comemorar o dia dos agentes comunitários e defender o SUS, apresentou o tema: “ACS na Linha de frente da Pandemia” e mostrou como os agentes de saúde estão enfrentando este momento, as dificuldades e desafios e qual a importância deste profissional no cotidiano dos territórios.

Já no primeiro dia de Live, foi apresentado o resultado do 1⁰ boletim da pesquisa de monitoramento das condições de saúde dos acs em tempos de Covid-19. A ideia da pesquisa surgiu com o intuito de acompanhar desde o início como os acs foram impactados pelo contexto da pan­demia. “Os aspectos principais são as suas condições de saúde ao seu modo de trabalho e também em relação a proteção que poderia estar recebendo na forma de formação profissional”, diz Camila Borges, pro­fessora e pesquisadora – EPSJV Fiocruz.

Para a agente de saúde Claudia Marques é um desafio estar na linha de frente do enfrentamento à Covid-19: “Eu fiquei doente. Temos que cui­dar de nós agentes de saúde, dos colegas de trabalho e da comunidade”, contou na segunda noite de lives.

Com a pandemia, os ACSs têm enfrentado muitas dificuldades como: contato com os moradores, condições precárias de saneamento básico e falta d’água. A agente comunitária Ana Iara Valeriano afirma que a pandemia trouxe a tona problemas recorrentes: “A pandemia veio para mostrar tudo que os profissionais estavam vivendo, mas que conse­guiam levar”, diz.

Os agentes comunitários de saúde são moradores e moradoras das co­munidades onde atuam e por conta disso vivenciam os dois lados dos problemas: “O agente comunitário também é morador da favela, en­tão ele vive os dois lados, o do trabalhador e do morador. O ACSs tem mais dificuldade para se higienizar quando chega do trabalho, levando em conta que na favela a falta d’água é grande. A falta de saneamento básico, falta de distanciamento veio afetando também a nossa saúde mental”, explica Wagner Souza, presidente em exercício do Sindicato dos Agentes do Rio de Janeiro.

Os profissionais também têm enfrentado problemas no contato com alguns moradores, porque muitos estão optando pelo atendimento on­line para que assim não haja riscos mas nem todos possuem acesso à internet. Segundo Alex Pessoa, agente comunitário, a profissão tem se reinventado e explica novas estratégias adotadas para não deixar o morador sem amparo: “Antes, nós ACSs, íamos até a comunidade e en­trávamos na residência das pessoas, o que não está sendo possível ago­ra. Alguns contatos estão sendo feitos pelo celular e nós sabemos que nem todos os moradores têm acesso. O que fazer nesses casos? Assim nós vamos até a residência”, fala.

A semana contou também com a presença da professora e terapeuta, Marilda Silva Moreira, que há 20 anos atua na área de saúde pública. O tema do debate foi “Cuidando de quem cuida – Práticas Integrativas Para ACSs na Linha de frente da Pandemia”, onde ensinou atividades de relaxa­mento. Segundo ela, neste período de pandemia, muitos agentes de saúde a procuraram e relataram problemas com a saúde mental: “É importante ter o autocuidado. A pandemia afetou a saúde mental dos profissionais de saúde e dos ACSs. O corpo sempre vai conversar com a gente. Os pacientes relatam falta de sono, dores no corpo e dores de cabeça” afirma.

Ainda segundo a terapeuta, esse excesso de informações tem feito mal as pessoas:

“Nós estamos sendo tomados por esse dilúvio de ideias, de pensamentos, de informações e sensações, e não estamos tendo tem­po de viver isso”. Para ela, nós não sabemos escutar nosso corpo, não respeitamos a hora de parar, o que pode acarretar uma depressão ou ansiedade: “Quando sentimos uma dor, tomamos um remédio e segui­mos a vida. A gente não tem tempo de escutar nosso corpo. Ele avisa, dá os sinais, mas não ouvimos.”

A semana de comemoração ao dia dos Agentes Comunitários de Saú­de e defesa do SUS, contou também com a exibição do documentário “Nossa água”, onde moradores de Manguinhos mostraram a situação da água que chega em suas casas. A água é essencial para o combate a Covid-19, o básico e o que todo ser humano necessita, sobretu­do em período de crise sanitária. Além desse, foi exibido também o documentário premiado pela UFRJ e apresentado na Câmara dos Vereadores, “Manguinhos Resiste a mais uma enchente”. Produzido pela Comissão dos Agentes Comunitários de Saúde em Manguinhos, o filme apresenta problemas causados pelas enchentes, o que já é recorrente na comunidade.

Segundo a agente Ana Iara Valeriano, a pandemia mostrou o descaso que a saúde pública já vivia e citou a importância do SUS: “Eu sou agente Co­munitária de saúde e é importante reforçar que é uma categoria exclusi­va do SUS, nós somos o SUS. Trabalhar na linha de frente nos impactou como profissionais e como cidadãos, pertencentes ao território”, diz.

“Estamos vencendo. Porque a gente sempre precisa do outro, e quando a gente busca o outro, a gente consegue”, finaliza a ACS Cláudia Marques.

Durante o evento, rolou também a distribuição de máscaras aos acs, item essencial ao combate à Covid-19, e a EPSJV doou livros que foram sorteados entre os agentes.

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