Nós, povos indígenas de contextos urbano, ribeirinho, extrativista e aldeia urbana, reunidos na primeira conferência estadual do Estado de Rondônia – que contou com a participação de mais de dez povos, representados por nossas manifestações espirituais e culturais, pinturas, grafismos, cantos e danças – , dialogamos acerca de nossa realidade com assessoria de Giva Fulniô, da Comissão Nacional da Conferência, via on-line, que nos animou com sua participação e sua reflexão compartilhada entre as pessoas presentes. Agabawé Mura deu continuidade com a análise de conjuntura, seguido por Márcia Mura, que fez uma breve contextualização sobre a política de embranquecimento do Estado e a introdução do indígena na sociedade nacional, o que resultou na presença indígena nos espaços urbanos da nossa região, ribeirinhos e extrativistas. Nossas partilhas em plenária e em grupos nos lançam a novos desafios:
“nos fortalecermos mutuamente e junto a nossos aliados,
para alcançarmos políticas públicas historicamente
negadas a nossos povos, por causa de genocídio,
etnocídio e invasão de territórios. Foi a cidade que
invadiu nossos territórios e não nós que fomos até as
cidades, assim também afirmamos nossa existência
nos espaços ribeirinhos e extrativistas. Isso só reafirma
que as políticas públicas devem ser construídas para
reparar essas violações, sem, no entanto, gerar divisão
e disputa entre nós, ao invés disso, criar possibilidades
para que os diferentes contextos sejam considerados.”
Viemos na oportunidade repudiar a postura do Estado de Rondônia por não cumprir a legislação da educação escolar indígena específica e diferenciada, com a garantia plena do que consta nos documentos oficiais, assim como repudiar também as práticas etnocidas que ferem nossos processos culturais nas escolas em âmbitos urbano, ribeirinho e extrativista, criminalizando educadoras que aplicam a legislação embasada nos parâmetros curriculares que asseguram o ensino das culturas indígena e afro-brasileira em nossas escolas.
Seguiremos o caminho com aliadas e aliados num processo de organização coletiva rumo à Conferência Nacional, e continuaremos nos mobilizando nos municípios pela constituição de coletivos organizativos e fortalecendo processos existentes que nos incluam.
Da beira do rio Mamoré, no dia Mundial da Água, fazemos o compromisso coletivo de seguirmos juntes em favor de nossas Vidas.
Guajará Mirim, dia 21 de Março de 2023.