Mortos em seus direitos no morro do Borel

João Luis Silva, voluntário da Ong Rio de Paz
Imagem: Acervo pessoal João Luiz Silva

Com o início da pandemia, foi lançada luz sobre mais um absurdo envolvendo a garantia de direitos dos mais pobres deste país.

Com o crescimento da crise sanitária que vitimou milhares de pessoas mundo a fora, no Rio de Janeiro, dezenas dessas vítimas que foram a óbito – muitas sem sequer receber o tratamento devido, todas moradoras das comunidades -, ainda enfrentariam as últimas violações antes que descessem a sepultura.

À medida que estes sujeitos morriam em suas residências, uma verdadeira gincana do terror começava para seus familiares que tentavam a todo custo a remoção de seus corpos. E como, infelizmente, é comum por parte do poder público, nenhum serviço de recolhimento de cadáveres agiu para colocar fim ao suplício dos familiares que acabavam de perder seus pais, suas mães, filhos ou qualquer que fosse o grau de parentesco.

A partir deste descaso uma verdadeira coleção de situações graves e violentas foram sendo produzidas. Como o caso de seu Antônio, um idoso de 82 anos, morador de Manguinhos, que segundo os médicos morreu por insuficiência respiratória e que depois de declarado o óbito, passou incríveis 27 horas na companhia de sua esposa, igualmente idosa, até que conseguíssemos remover seu corpo para ser sepultado com o mínimo de dignidade.

E por mais que o caso do Sr. Antônio nos impressionasse e tivesse grande repercussão midiática, acreditávamos que situações assim não voltariam a ocorrer. Ledo engano, por conta da veiculação do fato, o que ocorreu foi o aumento de pessoas nos procurando para denunciar as mesmas problemáticas; foi assim com o Sr. Luiz, do morro do Borel, que passou 23 horas morto em sua casa; do Sr. Pedro, de 72 anos, morador do morro do Cantagalo, que passou 20 horas morto em casa; e tantos outros que sofreram até para que tivessem seu último direito efetivado, o de uma despedida minimamente digna no seu último adeus.

Os casos não param de chegar e esperamos que logo os responsáveis por estes serviços tenham um pouco mais de empatia e compaixão a fim de abreviar o sofrimento de inúmeras famílias.

Esta gostando do conteúdo? Compartilhe

Veja Também