São as mulheres que estão na linha de frente, lutando por justiça e dignidade de seus filhos. São domésticas, camelôs, manicures, que garantem o sustento da casa e atuam no enfrentamento da crise sanitária e humanitária.
Com a pandemia, as famílias ficaram sem renda nenhuma e muitas não conseguiram nem auxílio emergencial.
Mas a favela resiste, e sem a ajuda do Estado, luta para conseguir cestas básicas, kits de higiene e medicação; e até quando estamos distribuindo alimento para o nosso povo, somos alvejados pela polícia porque vivemos sob ataque.
Como fazer quarentena com a polícia arrebentando nossa porta, torturando pessoas? Como fazer quarentena vivendo sob o terrorismo silencioso do Estado?
Os movimentos de favelas, movimentos sociais, Defensoria pública, conseguiram através da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 635 a suspensão das operações policiais com blindados durante a pandemia. Mas o Estado viola todos os nossos direitos. O Ministério Público não cumpre com o seu dever Constitucional de fazer o controle externo da polícia. Essa violência nos adoece.
Repudiamos essa política de mortes, queremos que priorizem vidas e a dignidade humana. A dignidade não se perde mesmo que a pessoa tenha cometido crime.
Repudiamos todas as vidas ceifadas, a cultura da morte, todos os direitos ameaçados.
A mancha de sangue que ficou no chão do Jacarezinho está nas mãos do governo estadual, do judiciário e do Ministério Público.
Todo nosso amor às mães do Jacarezinho, às esposas que perderam seus maridos e filhos que perderam seus pais.
Somos cria da favela.
Nossos passos vêem de longe.