Plantando e colhendo saúde alimentar na extrema zona oeste

Day Medeiros Professora e ativista sociocultural da Zona Oeste
Foto: Saney Souza

“A Zona Oeste não tem um dono
A Zona Oeste segue a dialogar
Força, acalanto, fé
Pessoas que ousam sonhar
Passos firmes no asfalto
Mãos na terra, corpo no mar
União popular é meta
Da festa se faz insurgência
A comida chegou no prato
Alimento sem veneno é luta
Das mulheres do extremo oeste da cidade
Tecendo teia de solidariedade!
Para todas nós! ”

Saney Souza

A Teia de Solidariedade da ZO nasceu do ventre tecido por uma rede de mulheres negras e periféricas da Zona oeste, que são símbolos de resistência para a maior região populacional da cidade do Rio de Janeiro e que no começo da pandemia se uniram coletivamente para auxiliar famílias em situação de vulnerabilidade. O grupo que atu­almente é formado por 11 coletivos de mulheres da Zona Oeste, tem desenvolvido uma campanha para arrecadar alimenttos e produtos de higiene. Até o momento, já entregou 1500 cestas básicas e pro­dutos de higiene durante o período de junho a outubro, alcançando cerca de 7500 pessoas.

A proposta da campanha carrega sempre o senso de coletividade e corresponsabilidade ancestral, protagonizando as mulheres negras no enfrentamento e construção da luta por direitos do povo pobre,

preto e periférico. A campa­nha tem sido realizada através de metas: a Meta 1 de cuidado comunitário, alcançou o apoio esperado em 30 dias e atual­mente está aberta a campanha da Meta 2 de combate à fome e pela soberania alimentar. A campanha pode acessada no site:

Foto: Arquivo Teia de Solidariedade da Zona Oeste

http://www.mulhereszo­naoeste.bonde.org/.

As ativistas Saney Sousa e Ana Gabriela Ribeiro contaram que durante o processo de construção da campanha, percebeu-se que era preciso fazer mais do que entregar alimentos das cestas básicas. Era necessário também investir em saúde, conhecimento e autonomia ali­mentar. Visando driblar a injustiça ambiental e dando acesso a famí­lias aos alimentos orgânicos que são supervalorizados nas áreas ricas das cidades, mas que se tornam financeiramente são inviáveis para as famílias mais vulneráveis. Tudo isso, apoiando a rede de mulhe­res agricultoras da região que foram afetadas com a pandemia, como Dona Marta, que pratica a agroecologia como modo de vida em seu sítio em Campo grande e que teve sua colheita distribuída pela teia nas comunidades de Sepetiba e Paciência em outubro. A ação dessas mulheres viabiliza através das campanhas e doações essa troca que é mais que solidariedade, é o resgate do contato com a terra, sem vene­nos impostos pela superprodução agrícola. Terras essas que são cada vez mais disputadas com a especulação imobiliária – fenômeno que acomete a região desde que passou de Zona Rural para Zona Oeste no final da década de 60, e que aumenta o valor praticado na venda de imóveis, eleva o custo de vida e dificulta a manutenção de pequenos comércios e de moradias populares.

Foto: Arquivo Teia de Solidariedade da Zona Oeste

Pensar em saúde alimentar através do acesso aos orgânicos, além de ser uma solução rica para todos os envolvidos, é uma ação socioedu­cativa, que nos ensina a repensar a nossa maneira de depender de um consumo capitalista que coloca a população periférica em um lugar ainda mais desigual socialmente. A Teia de Solidariedade da ZO faz política com afeto e mobilização comunitária, pensando em um novo mundo sendo construído com apoio de pessoas, coletivas e coletivos que defendem as lutas antirracistas, antimachistas e anticapitalistas. Desta forma, evidencia a luta das mulheres negras e periféricas que sempre movimentaram suas comunidades, com acolhimento, perse­verança e luta por soberania e direitos que diminuam os impactos do racismo estrutural que distancia a Zona Oeste desde antes da pande­mia e por investimento em políticas públicas que garantam a quali­dade de vida da população. Para conhecer melhor esse trabalho po­tente e essencial, pode-se acessar os perfis nas redes sociais através do @teiasolidariedadZO.

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