Que tiro foi esse???: estande de tiros da cidade da polícia afeta vida e desenvolvimento escolar em Manguinhos

Fábio Monteiro – Membro do Conselho Comunitário de Manguinhos
Imagem: Fábio Monteiro

A vida dos mo­radores de fave­la são impactadas de diversas ma­neiras como fal­ta de saneamen­to, restrição de acesso à saúde, educação precá­ria, sobretudo em um momento de pandemia onde a desigualdade ob­teve um grande crescimento. A luta por direitos sempre foi intensa e em Manguinhos teve mais um agravante incluído, a falta de um isolamento acústico no estande de tiros da Cidade da Polícia – CIDPOL.

“Os tiros parecem que são na minha rua”

disse uma moradora de Manguinhos.

Já um aluno do Colégio Clóvis Monteiro, vizinho à CIDPOL diz: “Minha professora já teve que parar a aula por causa do barulho dos tiros, não dá pra aprender assim”.

Como diminuir os impactos sociais em uma região já impactada com tanta desigualdade? É o que a iniciativa de um grupo de moradores, juntamente com o Conselho Comunitário de Manguinhos, pretende fa­zer em relação ao fato. Sem perder tempo, uma comissão do Conselho Comunitário de Manguinhos protocolou no dia 24 de novembro, um ofício coletivo na Secretaria de Polícia do Estado do Rio de Janeiro (Se­pol- RJ) ( solicitando um isolamento acústico para o estande de tiros da Cidade da Polícia. O desenvolvimento de projetos sociais como o Ballet Manguinhos, creches escolares, aulas do Colégio Estadual Prof° Clóvis Monteiro, não podem ser mais impactados desta maneira, bem como a saúde de moradores de Manguinhos próximos ao local.

Este ofício é fruto de uma série de reuniões articuladas pelo Conselho Comunitário de Manguinhos, ao longo do mês de outubro/2021, com moradores e trabalhadores locais, instituições e apoiadores como a Co­missão dos Direitos Humanos da Alerj, Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Ouvidoria da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DP-RJ). Ao todo foram realizadas três reuniões, sendo a primeira na Biblioteca Parque Marielle Franco, na Praça do PAC em Manguinhos, debatendo a situação, avaliando os impactos causados nas vidas dos moradores e projetos locais, onde en­caminhou-se articular com vereadores e deputados a fim de dar visibi­lidade à situação e pensar coletivamente uma possível solução.

A segunda reunião se deu na sede do Ballet Manguinhos, já com pre­sença de representantes de mandatos, vereadores e deputados, repre­sentantes de projetos locais e também a direção do colégio Estadual Clóvis Monteiro com alunos. Os depoimentos foram diversos, como au­las do Colégio e do Ballet impactadas; relatos de pessoas que passavam pela rua e, ao ouvir o som dos tiros, oriundos do treinamento, joga­ram-se ao chão para se proteger; entre outros.

Um dos depoimentos que mais chamou a atenção foi o de uma mora­dora que teve sua caixa d’água perfurada por projéteis provavelmente vindos da Cidade da Polícia, tendo em vista a localização da casa próxi­ma ao estande. No momento da ocorrência não havia operação policial nem tiroteios locais em andamento, apenas o treinamento no estande de tiros. Como encaminhamento, tivemos um ofício coletivo dos man­datos presentes a ser protocolado junto ao secretário de segurança pú­blica do Estado do Rio de Janeiro.

E foi no pátio do Colégio Clóvis Monteiro, onde se deu o terceiro encon­tro. O tema foi debatido mais uma vez com alunos e moradores, ao som dos tiros advindos da Cidade da Polícia, onde os participantes puderam sentir na pele como o colégio tem sido impactado. Após o debate amplo, foi tirada uma comissão para escrever um ofício com representantes de instituições, projetos e coletivos locais – este protocolado no dia 24 de novembro de 2021 na Sepol-RJ.

Muitos ainda são os desafios para a conclusão deste processo de isola­mento acústico sair do papel, porém o Conselho Comunitário de Man­guinhos permanecerá monitorando o andamento do processo pós pro­tocolo do ofício, garantindo que a poluição sonora advinda da cidade da Polícia não cause mais impactos negativos na vida dos moradores e no desenvolvimento local. A carta na íntegra está disponível através do link: https://cutt.ly/XYV2DXf

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