A vida dos moradores de favela são impactadas de diversas maneiras como falta de saneamento, restrição de acesso à saúde, educação precária, sobretudo em um momento de pandemia onde a desigualdade obteve um grande crescimento. A luta por direitos sempre foi intensa e em Manguinhos teve mais um agravante incluído, a falta de um isolamento acústico no estande de tiros da Cidade da Polícia – CIDPOL.
“Os tiros parecem que são na minha rua” –
disse uma moradora de Manguinhos.
Já um aluno do Colégio Clóvis Monteiro, vizinho à CIDPOL diz: “Minha professora já teve que parar a aula por causa do barulho dos tiros, não dá pra aprender assim”.
Como diminuir os impactos sociais em uma região já impactada com tanta desigualdade? É o que a iniciativa de um grupo de moradores, juntamente com o Conselho Comunitário de Manguinhos, pretende fazer em relação ao fato. Sem perder tempo, uma comissão do Conselho Comunitário de Manguinhos protocolou no dia 24 de novembro, um ofício coletivo na Secretaria de Polícia do Estado do Rio de Janeiro (Sepol- RJ) ( solicitando um isolamento acústico para o estande de tiros da Cidade da Polícia. O desenvolvimento de projetos sociais como o Ballet Manguinhos, creches escolares, aulas do Colégio Estadual Prof° Clóvis Monteiro, não podem ser mais impactados desta maneira, bem como a saúde de moradores de Manguinhos próximos ao local.
Este ofício é fruto de uma série de reuniões articuladas pelo Conselho Comunitário de Manguinhos, ao longo do mês de outubro/2021, com moradores e trabalhadores locais, instituições e apoiadores como a Comissão dos Direitos Humanos da Alerj, Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Ouvidoria da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DP-RJ). Ao todo foram realizadas três reuniões, sendo a primeira na Biblioteca Parque Marielle Franco, na Praça do PAC em Manguinhos, debatendo a situação, avaliando os impactos causados nas vidas dos moradores e projetos locais, onde encaminhou-se articular com vereadores e deputados a fim de dar visibilidade à situação e pensar coletivamente uma possível solução.
A segunda reunião se deu na sede do Ballet Manguinhos, já com presença de representantes de mandatos, vereadores e deputados, representantes de projetos locais e também a direção do colégio Estadual Clóvis Monteiro com alunos. Os depoimentos foram diversos, como aulas do Colégio e do Ballet impactadas; relatos de pessoas que passavam pela rua e, ao ouvir o som dos tiros, oriundos do treinamento, jogaram-se ao chão para se proteger; entre outros.
Um dos depoimentos que mais chamou a atenção foi o de uma moradora que teve sua caixa d’água perfurada por projéteis provavelmente vindos da Cidade da Polícia, tendo em vista a localização da casa próxima ao estande. No momento da ocorrência não havia operação policial nem tiroteios locais em andamento, apenas o treinamento no estande de tiros. Como encaminhamento, tivemos um ofício coletivo dos mandatos presentes a ser protocolado junto ao secretário de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro.
E foi no pátio do Colégio Clóvis Monteiro, onde se deu o terceiro encontro. O tema foi debatido mais uma vez com alunos e moradores, ao som dos tiros advindos da Cidade da Polícia, onde os participantes puderam sentir na pele como o colégio tem sido impactado. Após o debate amplo, foi tirada uma comissão para escrever um ofício com representantes de instituições, projetos e coletivos locais – este protocolado no dia 24 de novembro de 2021 na Sepol-RJ.
Muitos ainda são os desafios para a conclusão deste processo de isolamento acústico sair do papel, porém o Conselho Comunitário de Manguinhos permanecerá monitorando o andamento do processo pós protocolo do ofício, garantindo que a poluição sonora advinda da cidade da Polícia não cause mais impactos negativos na vida dos moradores e no desenvolvimento local. A carta na íntegra está disponível através do link: https://cutt.ly/XYV2DXf