Remoções em plena pandemia

Renata Dutra, Estudante de jornalismo, comunicadora comunitária e moradora de Manguinhos.
Foto: Acervo Laboratório Territorial de Manguinhos Fiocruz

O ano de 2020 foi marcado pela pandemia do novo coronavírus e medidas tiveram que ser tomadas para conter o vírus e o contágio. Para isso, é recomendado o uso de máscaras, uso de álcool em gel, evitar o contato com pessoas e uma higiene redobrada. Para combater o vírus, é preciso água potável, espaço entre as casas e manter o distanciamento social. Mas como isso é possível nas favelas do Rio de Janeiro?

Em Manguinhos, há anos, os moradores lidam com a falta d’água, recorrentes enchentes, falta de saneamento básico e remoções. Na verdade, as remoções estão enraizadas na história do Complexo de Manguinhos, pois a favela abrigou pessoas que foram removidas, no ano de 1969, da Favela da Praia do Pinto, que ficava localizada na zona sul do Rio de Janeiro.

Neste momento de pandemia, esta série de problemas se torna cada vez mais grave, levando em conta que as casas são cada vez menores e próximas umas das outras. Segundo o morador Guilherme Antunes, sua antiga casa era maior: “Antes da gente se mudar, a gente tinha uma casa bem maior, mais espaçosa e trazia mais conforto, mas o governo veio e nos tirou, ofereceu um valor bem abaixo do que a nossa casa valia”, conta.

O morador de favela precisa lidar com recomeços, seja porque a chuva levou tudo ou porque o governo removeu sua casa. Em tempos de pandemia, falamos muito sobre a saúde tmental e como ela é afetada. Mas e quando um morador tem sua casa removida, isso afeta sua saúde mental? “Causa um trauma, a gente constrói nossa casa, deixa com nossa identidade e quando o governo remove nós temos que começar tudo de novo. Causa uma confusão na nossa cabeça”, conta Guilherme.

Para o morador de favela, lidar com questões da pandemia, é muito mais difícil, porque não tem as mesmas oportunidades que outros cidadãos. Nem sempre o morador tem direito a fazer a quarentena, falta água para fazer sua higiene e falta espaço nas ruas e nas casas para fazer o distanciamento. Remoções de anos atrás ainda impactam nos dias de hoje.

Em julho, foi lançada a campanha “Despejo Zero”, que visa a suspensão de processos de remoção durante a pandemia. A campanha é uma ação nacional com apoio internacional. Segundo a campanha, em outubro de 2020, ano da pandemia do novo coronavírus, o número de famílias que tiveram suas casas removidas já ultrapassava a marca de seis mil. E, neste momento, no Brasil inteiro ainda continuam acontecendo remoções. Você pode denunciar as remoções que ocorrem na sua favela através do site campanhadespejozero.org

O pobre, negro e favelado não tem direito ao básico, que é água, moradia e vida.

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