Rocinha Pela Vida

Antônio Carlos Firmino, Coletivo Museu Sankofa Memória e História da Rocinha
Isabel Azevedo, Centro de Criação de Imagem Popular
Imagem: Acervo Coletivo Museu Sankofa Memória e História da Rocinha

Sankofa é uma palavra Akan, das nações africa­nas de Ghana e da Costa do Marfim que significa “devemos olhar para trás e recuperar nosso passa­do, assim podemos nos mover para frente; as­sim compreendemos por que e como viemos a ser quem somos nós hoje”.

Atualmente, o Museu Sankofa realiza o projeto Rocinha pela Vida, que se propõe a resgatar a memória dos mutirões e campanhas históricas da Rocinha por direitos humanos e bem-estar social, particularmente da saúde com foco na vacinação. A ideia é convidar as jovens lideran­ças e moradores a se reunirem em torno das histórias do movimento popular no território e àqueles que lutaram no passado para conquis­tar os equipamentos públicos de saúde, educação, saneamento, urba­nização e cultura que hoje existem na comunidade.

O museu utilizará a apresentação de documentos de seu acervo, in­cluindo fotos, notícias, músicas das reivindicações e vitórias. Materiais do Jornal Tagarela e do livro “Varal de Lembranças: histórias da Roci­nha” da União Pró-Melhoramentos dos Moradores da Rocinha, publi­cado em 1983, organizado por Lygia Segala, Antônio de Oliveira Lima e Tânia Regina da Silva, servirão como o fio condutor das narrativas.

Ao longo de 6 meses, serão rea­lizadas cinco lives (uma por mês) com integrantes dos movimentos sociais, agentes comunitários de saúde e pesquisadores que inte­graram ou ainda atuam nas lutas por saúde, desde os anos de 1970, para esquentar as lembranças do sucesso das campanhas de en­frentamento de doenças no pas­sado (sarampo, varíola, rubéola e outras) e alimentar a necessária mobilização para vencer também a Covid-19. Além disso, serão rea­lizadas ações de mobilização jun­to ao comércio formal e informal, principalmente nos pontos de maior circulação, com fixação de cartazes em locais de maior cir­culação e de banners informativos nas vielas e becos da comunidade. Os facilitadores do museu serão responsáveis por contribuírem em colagem de cartazes e banners em lugares estratégicos da favela.

Em julho de 2007, alguns moradores atuantes das muitas lutas por melhores condições sociais na Favela da Rocinha, além de artistas, militantes e autoridades, como o secretário Estadual de Cultura da época, participaram da construção do Fórum Cultural da Rocinha com mais de 200 participantes. Este Fórum formulou o plano cultural da Rocinha e passou a apoiar projetos culturais de preservação, sal­vaguarda de seu patrimônio e a criação de um museu para a Rocinha para difundir, de forma educativa, memórias e histórias da Favela, suas lutas e conquistas.

Imagem: acervo Coletivo Museu Sankofa Memória e História da Rocinha

Em 2008, surgiu o Coletivo Museu Sankofa Me­mória e História da Rocinha que iniciou ações para sair da ideia para algo mais concreto. As primeiras atividades foram realizadas em 2009, marcando as memórias e histórias da Rocinha com os “Chá de Museus” e com rodas de conversas temáticas sobre mutirões por saneamento básico, luta por vacinas e a importância dos pais e responsáveis vacinarem as crianças nos anos 70 e 80, entre ou­tras . As campanhas utilizavam cartazes artesa­nais, faixas e jornal comunitário como meios para sensibilizar os moradores.

O projeto Rocinha Pela Vida tem por objetivo contribuir para uma campanha de esclareci­mento sobre a Covid-19, através da promoção de debates virtuais mensais. Com a presença de especialistas em saúde, agentes comunitários de saúde locais (ACS) e moradores que lutaram pela campanha por vacinas na Rocinha nas dé­cadas 70 e 80, visa dirimir as dúvidas, alertar sobre fake news e sensibilizar a população sobre a importância da prevenção contra Covid-19 e da solidariedade entre os moradores. Serão con­vidados a participar dos debates professores das escolas públicas, profissionais das unidades de saúde e de assistência social, creches, lideranças dos movimentos sociais (organizações e coleti­vos), artistas e entidades do movimento cultural local, profissionais dos veículos de comunicação da Rocinha, entre outros. Serão criadas mensa­gens para circulação nas mídias sociais e veí­culos de comunicação da Rocinha com informações sobre prevenção contra a Covid-19 e as fake news.

Imagem: acervo Coletivo Museu Sankofa Memória e História da Rocinha

A campanha contará com a distribuição de 300 kits para prevenção da contaminação do vírus SARS-CoV-2, com máscaras de três dobras confeccionadas pelas costureiras da Rocinha, e álcool gel 70%; rea­lização de colagem de materiais informativos nos becos, vielas e em locais estratégicos (cartazes, banners) como equipamentos públicos de educação e saúde; comunicação através de carro de som e mídias locais sobre as fakes news e prevenção contra Covid-19.

O projeto Rocinha pela Vida só foi possível com nosso parceiro de muito tempo, o Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip), que apresentou a proposta do Coletivo do Museu Sankofa. O Cecip também é parceiro do Museu desde 2017 na criação do site “Memória da Ro­cinha” (http://memoriarocinha.com.br/), desenvolvido pelo Museu, pelo Instituto Moreira Salles e pelo Projeto Oi Kabum.

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde é reconhecido internacionalmente por sua eficiência e capacidade de cobertura. Em 1975, o Brasil recebeu da OMS o certificado de erradi­cação da varíola. Em 1980, o MS iniciou as campanhas de vacinação contra a poliomielite que atingia anualmente cerca de três mil pesso­as. O último registro da pólio no Brasil ocorreu em 1989, e em 1994, a OMS concedeu ao Brasil o certificado de erradicação da doença. Isso, graças ao SUS, que oferece toda a infraestrutura e a competência de seus profissionais. No caso da Rocinha, 100% de cobertura garantida pelo atendimento de duas Clínicas da Família, um CAPS, uma UPA e um CMS, resultado de muita mobilização dos movimentos sociais e motivo de orgulho para a comunidade.

A memória afetiva dos moradores em relação aos mutirões e às cam­panhas de vacinação vêm dando lugar às preocupações alimentadas por fake news. Essa memória do controle de doenças graves através das vacinas, aliada à comunicação confiável, é necessária e urgente. Ao compartilhar depoimentos de moradores sobre a luta por vacinas nas décadas 70 e 80 contra a mortalidade infantil e fazer o paralelo com o atual contexto na prevenção contra a Covid-19 e as fakes news, o projeto procura estimular a empatia e a solidariedade dos moradores para a prevenção da doença.

Imagem: acervo Coletivo Museu Sankofa Memória e História da Rocinha

Esta gostando do conteúdo? Compartilhe

Veja Também