Saneamento é um direito de todos
No dia 27 de janeiro aconteceu a live “Saneamento e Habitação Saudável”, na plataforma Cidades em Movimento. O debate integra a programação dos encontros preparatórios para o Congresso da União Internacional dos Arquitetos (UIA 2021). O encontro teve como objetivo aprofundar o debate sobre cidades saudáveis em colaboração com os moradores do território e contou com a participação da arquiteta e urbanista, Patrícia Oliveira.
Segundo Patrícia, ela se considera uma favelada arquiteta, pois mora há 40 anos em Manguinhos. Para ela, a construção do Programa de Aceleramento do Crescimento (PAC) Manguinhos teve questões problemáticas:
“Eu participei enquanto moradora do processo todo do PAC Manguinhos e pude observar que ele foi um pouco inconclusivo em algumas demandas que eram muito caras para nós moradores de favelas, como, por exemplo, o que diz respeito ao saneamento básico”.
A favela de Manguinhos sofre há anos com problemas como falta de saneamento básico, falta d’água, remoções e recorrentes enchentes. No dia 2 de janeiro deste ano, uma chuva de apenas 30 minutos foi capaz de alagar a comunidade. “Tivemos uma chuva que nem foi uma das maiores e, no entanto, a nossa favela ficou alagada como há décadas já vem acontecendo.
Então quando se fala de saneamento e PAC Manguinhos, eu observo que não levaram muito a sério a Constituição, porque é garantido na Constituição que o saneamento é um direito de todos”, conta.
Além disso, a arquiteta também viu pontos positivos nas obras, citando a oportunidade dos moradores não habitarem mais na beira dos rios. “Conheci de perto muitas pessoas que moravam na beira do Rio Faria Timbó e foram contempladas com uma habitação, isso é uma das partes louváveis desse projeto”, diz.
Mas para ela, em contrapartida, para uma habitação ser considerada saudável não pode ser levado em consideração apenas se tem uma boa ventilação: “Precisa ser levado em consideração também a saúde mental, saúde física, etc”.
Patrícia também falou sobre as remoções na favela: “A minha avó paterna foi removida da favela do Caju, por conta da construção da ponte Rio Niterói e veio morar em Manguinhos. Quando ela estava com 84 anos passou por mais uma remoção e não resistiu, entrou em uma profunda tristeza”.
Não é fácil começar do zero várias vezes, o morador constrói laços afetivos, constrói sua casa do seu jeito, se identifica com o local onde mora e acaba sofrendo com as constantes remoções. E como fica a saúde mental destas pessoas?
“Ela criou filhos e netos e não reagiu bem a essa remoção. Quando a gente pensa em uma urbanização local deve ser levados em consideração todos esses pontos, no sentido de que isso vai preservar a saúde das pessoas”, finaliza a arquiteta.