Moradoras e moradores da região de Santa Cruz (Zona Oeste do RJ) estão cercados há muitos anos pelo distrito industrial. É sabido que muitos processos industriais geram rejeitos que fazem mal à saúde das pessoas. Na nossa região, em especial, estamos localizados bem perto da siderúrgica Ternium (antiga TKCSA). Desde 2010, moradores denunciam diversas violações ambientais, e uma delas é a mais famosa: a ‘chuva de prata’. Dita pela empresa como pó de ‘carbono e grafite -que não são tóxicos-’, os moradores relataram diversas complicações respiratórias e dermatológicas. Nosso coletivo fez as medições do nível de poluição do ar através do projeto ‘Vigilância Popular em Saúde’ junto ao Instituto PACS, Fiocruz e Justiça nos Trilhos já há alguns anos, após os episódios da chuva de prata. Nossos resultados? Níveis de poluição maiores que os indicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
E é partindo desse histórico que me posiciono: a demanda da região deve ser vacinar TODOS os moradores que são impactados pela poluição desse distrito, pois a maioria dos moradores aqui são grupo de risco só de habitar próximo à siderúrgica: se estamos em um território de maioria negra, baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e violações da saúde, temos uma alta taxa da mortalidade por Covid-19 nesta região. E isso é comprovado através dos números (mesmo com as possíveis subnotificações). Um território em que a maioria dos moradores – por serem impactados pela produção industrial – possuem problemas respiratórios deve ser um território prioritário no mapa da vacina. Há muito tempo lutamos para ter acesso a pneumologistas e dermatologistas nos postos de saúde do entorno. Nossa luta é pelo bem estar dos moradores da região. E já chegou o momento das periferias e favelas cobrarem cada vez mais: nosso lugar na fila da vacina não é esse. Nós somos quem mais morre, quem mais infecta e é infectado, quem mais está vulnerável. Nós somos quem desde o começo da pandemia trabalha presencialmente, pegamos transportes públicos lotados e atravessamos o Rio de Janeiro para manter a cidade em funcionamento. Analisando os estudos e as taxas de mortalidade da região, é conclusiva a necessidade da prioridade para trabalhadoras e trabalhadores. A extrema Zona Oeste não pode ser mais uma vez esquecida. E é por isso que lutamos.